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Dr. Luís Gonçalves

Pediatra, Especialista em Neonatologia

 

Tosse convulsa em Portugal
Porque vale a pena falarmos deste assunto?

HPA Magazine 7


Nos últimos 30 anos, em vários países, tem sido relatado um aumento da incidência de tosse convulsa, sobretudo em adolescentes e adultos, apesar das altas taxas de cobertura da vacinação. A tosse convulsa é uma doença infeciosa do trato respiratório causada por uma bactéria: a Bordetella pertussis.



 

Nos últimos 30 anos, em vários países, tem sido relatado um aumento da incidência de tosse convulsa, sobretudo em adolescentes e adultos, apesar das altas taxas de cobertura da vacinação. A tosse convulsa é uma doença infeciosa do trato respiratório causada por uma bactéria: a Bordetella pertussis.
O quadro clínico clássico carateriza-se por 3 fases: a 1ª envolve uma constipação comum, com tosse seca e febre baixa, a 2ª (podendo durar 2- 6 semanas) inclui o agravamento da tosse, observando-se congestão facial e protusão da língua e por vezes guincho ou vómito, na 3ª os ataques de tosse diminuem progressivamente, mas esta pode prolongar-se ainda durante meses. Por ter uma duração arrastada, que pode chegar às 12 semanas, é também conhecida pela “tosse dos 100 dias”.
A erradicação de doenças infeciosas evitáveis continua a ser uma prioridade. Antes da vacinação infantil ser introduzida em 1940, a tosse convulsa era uma das principais causas de morte na população infantil. 
Em Portugal, a vacina contra a tosse convulsa foi introduzida no Programa Nacional de Vacinação (PNV) em 1965. A partir de 1967, foi possível observar o elevado impacto da vacinação contra esta doença, expresso no acentuado decréscimo do número de notificações da doença.
A vacinação universal de crianças resultou na redução significativa da sua morbilidade e mortalidade. A partir da década de 90, tem sido observado um aumento de notificações de casos de tosse convulsa em vários países. Esta tornou-se a doença prevenível mais prevalente nos países industrializados, aliás é a única doença com vacina específica que tem vindo a aumentar de incidência nos últimos anos. Este aparente ressurgimento da doença constitui, portanto, uma preocupação ao nível da saúde pública.
A principal explicação proposta para tal aumento na incidência é a perda de imunidade, que ocorre após a infeção natural e a vacinação. O impacto epidemiológico deste facto depende essencialmente da durabilidade da proteção na população, que continua a ser notoriamente difícil de estimar. Além disso, a imunidade conferida pela vacina começa a diminuir dentro de 3 a 5 anos após a imunização completa e/ou o segundo reforço (aos 5/6 anos de idade), tornando-se desprezível após os 12 anos de idade, razão que explica também que a Tosse Convulsa seja atualmente endémica nos adolescentes e nos adultos jovens.
O ressurgimento da tosse convulsa tem sido também atribuído a vários outros fatores, entre os quais a maior suspeição clínica da doença, a adoção de vacinas menos eficazes e a adaptação da bactéria.
 

Embora a tosse convulsa resulte apenas em tosse prolongada nas crianças mais velhas e nos adultos que, em muitos casos, manifestam apenas um ligeiro incómodo, a sua presença na comunidade origina, inevitavelmente, infeções em lactentes não imunizados, que são sujeitos a riscos de complicações graves e de morte.
A tosse convulsa é uma infeção bacteriana endémica, altamente contagiosa, com picos epidémicos que tendem a ocorrer a cada 3 a 5 anos. A Bordetella pertussis infecta apenas o ser humano. Em crianças, as fontes de infeção por esta bactéria são quase sempre atribuídas aos membros da família, frequentemente os pais ou irmãos mais velhos. Nas regiões com elevada cobertura de vacinação, são os adolescentes e os adultos o principal reservatório da bactéria. Porém, nos locais onde a cobertura é baixa, são as crianças as principais fontes de transmissão da doença. 
O contágio ocorre pelo contacto com gotículas respiratórias geradas por tosse ou espirro de pessoas doentes, especialmente na fase catarral e início da fase paroxística (quando surge tosse súbita, rápida e curta). Isto facilita a transmissão, pois o diagnóstico, em geral, só é suspeito posteriormente, quando a tosse já dura mais de 21 dias.
A tosse convulsa pode ocorrer em qualquer idade, mas a maioria dos casos é notificada e, provavelmente, reconhecida em crianças com idade inferior a 5 anos. Não se tem demonstrado suficiente proteção materna por passagem transplacentária de anticorpos e os lactentes são suscetíveis desde as primeiras semanas de vida.
A vacinação universal de adolescentes e adultos, assim como a vacinação materna na gestação , ou no pós-parto imediato, e dos adultos que terão contacto íntimo com o recém-nascido são meios potenciais para a proteção individual e interrupção da transmissão para lactentes suscetíveis, com consequente redução da morbilidade e mortalidade.
Se tem algum familiar, incluindo bebés e crianças com tosse crónica e/ou prolongada deve consultar o seu médico para ser observado.

1) De acordo com a Direção Geral de Saúde, recomenda-se a vacinação durante a gravidez  com uma dose de vacina combinada contra a tosse convulsa, o tétano e a difteria, em doses reduzidas (Tdpa), entre as 20 e as 36 semanas de gestação, idealmente até às 32 semanas. A vacinação deve ocorrer após a ecografia morfológica (recomendada entre as 20 e as 22 semanas + 6 dias).